sexta-feira, 29 de maio de 2009

o nevoeiro


Tudo começa quando uma névoa densa surge inexplicavelmente. Pessoas que estava num supermercado resolvem ficar onde estão por não saberem do que se trata aquela cortina cinza, que parece ter ocupado toda a cidade. Enquanto buscam uma saída, os aprisionados descobrem que não é uma simples neblina. Há monstros se espalhando a medida que a névoa avança. O desespero, crescente na falta de uma solução, se torna decisivo na apresentação das personalidades de cada confinado do lugar, o que dá a entender que o perigo maior pode não estar lá fora.
Esta é a terceira adaptação de Darabont baseada em contos ou romances de Stephen King. O mais interessante dessa parceria é que o diretor/roteirista não se prende apenas aos romances formulaicos de King (reparem que quase sempre há um escritor, um morto, um trauma…), mas ele capta o melhor entre as melhores obras do escritor. Isso se dá porque Darabont tem a já referida noção do que é ser humano e consegue expressar de forma verdadeira como alguns de nós são criaturas benevolentes, que não conseguem encontrar o próximo em dificuldade e ficar indiferente, e como outros são verdadeiros crápulas, capazes de sentir prazer na desgraça alheia. Foi assim com Um Sonho de Liberdade e com À Espera de Um Milagre.
Em O Nevoeiro, Darabont faz o que é de costume nos trabalhos de Danny Boyle (Sunshine – Alerta Solar): testar o lado bom do ser humano, exibir a fragilidade das crenças dos seres ditos racionais. E quando me refiro a crenças, não é apenas a religião, mas tudo, até no valor da vida. No filme a vida de todos é ameaçada por criaturas monstruosas e só a possibilidade de ter um fim tão trágico se torna um forte motivo para que alguns se preocupem com tudo ao redor; para que outros desistam da própria vida sem grandes problemas; e outros usem do momento para atrair atenção para uma causa.
É o caso da personagem mais contundente de O Nevoeiro. Mrs. Carmody (Marcia Gay Harden) acredita que tudo são sinais do apocalipse, que a fúria de Deus está sobre a terra para cobrar pelos anos pecaminosos e profanos pelos quais a humanidade vem passando. Carmody representa o fanatismo religioso de uma forma geral, o mesmo capaz de alegrar multidões no Oriente Médio com a queda do World Trade Center, sem pensar nas vidas inocentes, o mesmo responsável pela morte de mais de 900 pessoas que, cegas pelo fanatismo, beberam e deram aos filhos cianureto, por ordem de um homem (Jim Jones) que eles acreditavam ser “o escolhido de Deus”. Mas prefiro encarar Carmody como uma versão histérica do pouco que vemos por aí.
Como contraponto de toda essa maldade está David (Thomas Jane), sempre preocupado com o filho e a segurança daqueles que estão por perto, e Amanda (Laurie Holden) disposta a ajudar no que for preciso. Mas isso é apenas um pouco de tantas características humanas perfeitamente elaboradas pelo roteiro de Darabont.
O diretor concebe sua obra mais tensa e o mais interessante é que nem toda essa tensão se deve aos monstros, mas às situações que os próprio confinados passam entre eles durante o filme.
A fotografia colabora bastante não apenas para manter os climas exigidos a cada cena, como também para valorizar as atuações, como é o caso do final, em que o desespero de Jane não convenceria, mas a escolha de manter a câmera afastada do ator e dar dimensão ao ocorrido em planos aéreos foi uma sacada inteligentíssima de Darabont. Aliás o final fica entre as melhores partes do filme, apresentando de forma dura uma reação extremamente verdadeira de um ser humano em desespero.
Pode não ser o melhor filme do diretor, mas, em meio a um gênero carente de boas obras este ano, a perícia técnica e o roteiro afiadíssimo fazem de O Nevoeiro, sem dúvida alguma, o melhor horror de 2008.

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