terça-feira, 5 de abril de 2011

Bruna Surfistinha


É difícil atingir um público geral quando há um preconceito separando a mídia do espectador. E quando este preconceito parece não ser o único a recair sobre um filme, o sucesso de uma produção nacional pode jamais se concretizar. Para sua sorte Bruna Surfistinha , se saiu bem contra a maré (já somou um milhão de espectadores em duas semanas) e tem um mínimo de conteúdo para quebrar o pensamento condicionado do público, assim como suplicava o cartaz. Baseado na biografia “O Doce Veneno do Escorpião”, Bruna Surfistinha narra a trajetória da garota de programa Raquel Pacheco, que sob pseudônimo título do filme se transformou na acompanhante mais conhecida nacionalmente.

Ruim, o filme não é; contudo, esta réplica aqui dada para uma pergunta existente na mente de qualquer pessoa que lê uma crítica de cinema é um apontamento direto àquilo que Bruna Surfistinha não fornece: respostas. O roteiro é certinho, é verdade. Raras são as vezes em que comete algum deslize que arrisque o bom andamento da compreensão das ações de Raquel. Mas, quando o faz, se torna gritante. Não há sequer um momento ou uma deixa na trama que justifique o motivo (praticamente imaginário, para o espectador) da jovem Raquel ter largado o conforto e a segurança da casa de sua família para ingressar na prostituição. Se eles existem – e nós nos conformamos em crer que sim – estão ocultos no roteiro. Ou, quem sabe, apenas insinuados nos conflitos domésticos exibidos, que só podem estar assumindo o papel de “gota d’água” tamanha a sua insuficiência para propor um raciocínio na mente de qualquer ser humano de que colocar o corpo à venda seria uma alternativa para aquela situação. Raquel, como a mesma chega a relatar, saira da casa de seus pais porque ansiava por independência. Uma explicação que não satisfaz qualquer curiosidade.

Incapaz de definir a fundo a personagem da vida de Raquel que é/foi a Bruna, o roteiro passa a colher alguns êxitos durante o seu desenrolar. Nisto, algum mérito pode ser associado tanto ao script, quanto ao trabalho de direção de Marcus Baldini. Em um filme cuja temática sexual aflora a cada plano, conseguir alcançar o mesmo nível de interesse nos atos de consumação, mantendo a nudez em níveis controlados (não é á toa que o longa não recebeu classificação 18 anos), requer certa habilidade em equilibrar os componentes de um longametragem. E aqui entram a boa idealização de planos abertos e fechados que se revezam, uma edição pontual e um roteiro que descreve o sexo de forma carnal, mas o mais distante possível do explícito. Quando já está claro que o filme não tem o objetivo de expor a personalidade de Raquel/Bruna, e sim exclusivamente a sua “ascensão no mercado”, o interesse começa a se esvaziar. E, não fosse pela performance de Deborah Secco (excepcionalmente firme e, depois, segura – tal qual Bruna ao atender o seu primeiro cliente), e o bom trabalho de edição em algumas sequências fechadas da narrativa, a atenção se esgotaria.


Fontes: pipoca combo

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