terça-feira, 5 de abril de 2011

“cinema nacional não presta”!





Eu costumo escutar muito isso. Que “cinema nacional não presta”! Eu acredito que não é bem por aí não. O cinema brasileiro faz algum tempo que vem se renovando em termos técnicos, o que já é um avanço considerado. Eu escuto muito mesmo as pessoas dizerem que o cinema nacional só tem “putaria”, “palavrão”, “sexo”, “violência” e “humor sobre nordestinos”. Esses preceitos já são tão comuns que rebater tudo isso torna-se uma tarefa enfadonha. O fato é que o cinema nacional não se finca apenas nessas vertentes, mas sim numa base que sai diretamente da TV, o que pode ser ruim em dado momento. Nosso cinema tem evoluído de forma evidente, tem se cercado de profissionais competentes e gente nova tentando ejetar sangue e inteligência em nosso mercado cinematográfico. O que me deixa estupefato é que em pleno século 21, na década em que vivemos, a crítica e os fomentadores de opiniões ainda vejam o cinema nacional como algo retrogrado, como se não tivesse saído do canto. Eu entendo que se um produto não é bom, não se deve “rasgar a seda”, mas o crítico brasileiro e o publico em geral tende sempre a buscar aquele erro, aquela falha, aquele deslize ou aquela falta de recurso para abrir uma vala na produção. Muitas vezes tem gente que “nem vi, e mesmo assim, já não gostei” tecendo em seguida uma série de comentário padrões sobre como o cinema nacional é cheio de “putaria e violência”.

Eu sempre torci para que cinema nacional saísse do seu estigma comum de “cinema marginalizado”. Como se o que fazemos é o máximo que conseguimos. Nos últimos dez anos nosso cinema deu saltos significativos com produções dignas de respaldo internacionais. Mas o que as pessoas querem é um cinema “hollywoodiano” no Brasil e admito que quando eu era mais jovem, também não entendia que nossa realidade é outra e que precisamos nos adequar a ela. Claro que não é por isso que não podemos fazer ficção cientifica ou filmes de espionagem, ação, artes marciais, terror, etc. Podemos sim! Podemos e devemos alargar nossas possibilidades, mas acima de tudo manter a raiz. Um bom exemplo de cineasta (apenas para exemplificar mesmo) que entende bem essa temática de sair do comum é o grande Jorge Furtado. Eu gosto muito dos trabalhos dele, porque o cara consegue imprimir um ritmo de cinema “hollywoodiano” se adequando a nossa realidade. Ele consegue contar uma história tipicamente nacional, com uma câmera aberta sem parecer um cenário de novela. Outros nomes grandes como Fernando Meirelles, Bruno Barreto, Karim Aïnouz, José Padilha, Vicente Amorim, Zé do Caixão, Moacyr Góes entre outros, são apenas alguns de uma nova safra de cineastas que saíram do esquema “novela” na telona para imporem um ritmo de película.

Nós estamos acostumados, claro, ao cinema estrangeiro. Ao cinema “americano” e achamos que tudo tem que ser aquilo. A industria de cinema nos Estados Unidos é como a industria, por exemplo, de tecidos ou enlatados no Brasil. Quer dizer, que lá é comum. É como uma empresa qualquer. Aqui nós não temos uma “industria” formada. Temos produtoras que se aventuram, buscam parcerias com a iniciativa privada, pedem uma esmolinha ao governo com a Lei de Incentivo a Cultura (Lei Audiovisual) e é dessa forma que nosso cinema vem sobrevivendo. Muita gente reclama da alta dose de violência, sexo e palavrões, mas muita gente não sabe que o cinema estadunidense é tão “sujo” quanto. Só que quando chega a nossa “TV aberta” aquelas produções vêm editadas, com os palavrões dublados para alguma coisa menos ofensiva para o canal aberto, com cenas de sexo ou violência às vezes mutiladas dependendo do horário. Mas é tão “sujo” quanto o nosso ou qualquer cinema no mundo. Infelizmente o brasileiro não quer saber disso, ele só enxerga o que está na sua cara. O que ele quer ver e como quer ver porque é mais cômodo.

Mas claro que nem tudo são defesas no nosso cinema. Os nossos roteiristas, produtores e diretores precisam sair do estigma “novela global”. É bem verdade que há (muitos) filmes nacionais que parecem novelas da Globo em tela grande com aquele texto piegas, arrastado, sem emoção verossímil caindo no comum das TVs diárias. As angulações nem sempre são inventivas, as performances dos atores acabam saindo pela culatra em interpretações novelescas e o filme acaba se vendendo sempre como “ou a comédia do ano” ou “o filme que quer ser o novo Tropa de Elite”. Às vezes falta inteligência, tato, arrojo, ousadia, investimento, fé e mais um pouco. O Brasil tem conseguido um numero bom de produções internas com boa aceitação dentro e fora do país, mas ainda não cresceu como deveria graças a um modelo arcaico de conduta que funcionava 30 anos atrás e hoje tem tanta objetividade quando escolher entre o fogo e frigideira. Somos um país grande, de miscigenação cultural enorme, de cabeças pensantes e mesmo assim de 10 filmes que se faz, dois ou três conseguem sair do comum dramático/engraçado/favela/sertão sem parecer o mais do mesmo. Eu aposto no nosso mercado. Ele está crescendo, saindo do simples e às vezes consegue surpreender. Como entusiasta que sou torço para que nosso cinema ganhe ainda mais criatividade e temas diversos.

Fontes: bueiro fétido.

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